NOTA DE REPÚDIO II

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NOTA DE REPÚDIO




Neste final de semana os sites jornalísticos de Mato Grosso noticiaram a prisão pelo Grupo Especial de 
Fronteira (GEFRON), compostos por agentes da Polícia Militar e da Polícia Civil de Mato Grosso, de uma equipe de jornalistas da Rede Globo de Televisão, que tentava adentrar ao Brasil, através de estrada vicinal na fronteira com a Bolívia, com um veículo recheado de pacotes com um pó branco muito parecido com a cocaína.

No momento da abordagem os policiais militares encontraram mais de vinte pacotes embrulhados e revestidos do mesmo jeito que os traficantes, que circulam na região de fronteira, fazem no dia-a-dia.  Não pensaram duas vezes e deram voz de prisão aos jornalistas que foram conduzidos à Delegacia da Polícia Federal, localizada na cidade de Cáceres, para as providências legalmente prescritas.

Durante o trajeto, o repórter Alex Barbosa, que compõe a equipe nacional de reportagem da Rede Globo de Televisão e tem merecido figuração de destaque no Jornal Nacional, tentando se eximir das suas responsabilidades, passou a informar que tudo não passava de uma simulação pensada pela Globo, para demonstrar a fragilidade da região de fronteira e que os pacotes com o pó branco apreendidos não passavam de gesso em pó.

Independente da alegação do jornalista, a guarnição dos policiais militares do GEFRON, agiu de maneira irrepreensível e profissional, prosseguindo com suas atribuições e encaminhando a equipe de reportagem que, confessadamente, procurava se passar por traficantes, para a Polícia Federal, a fim de realização do exame preliminar de constatação de substância entorpecente.

O ocorrido levanta alguns questionamentos em relação a conduta dos jornalistas, como por exemplo:

- É correto o jornalista se envolver numa reportagem a ponto de simular uma prática criminosa?

- A reportagem como estava sendo feita pela equipe de jornalistas da Rede Globo de Televisão, ao invés de alertar as autoridades para as deficiências, não estaria incentivando a prática criminosa?

Essas argumentações são feitas porque não é segredo para ninguém, inclusive para os jornalistas, que as deficiências da região de fronteira Brasil/Bolívia são incomensuráveis face à vastidão territorial e desproporção do efetivo policial destinado ao local.

No entanto, dilema fundamental ronda a atuação jornalística em discussão, uma vez que o foco informativo das dificuldades estruturais dos órgãos que atuam na fronteira foi substituído por uma tentativa de desacreditar os órgãos policiais, com pretenso “desvio” de conduta que, em tese, não seria descoberto, servindo como ensinamento e incentivo para práticas ilícitas.

A Constituição Federa, no artigo 21, XXII, é clara e define como responsabilidade da União executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteira. Apesar dessa previsão legal, o Estado de Mato Grosso, sabendo da influência da fronteira na vida das pessoas nas grandes cidades, não se eximiu da responsabilidade e criou, em 2002, o Grupo Especial de Fronteira (GEFRON), organismo policial referência de atuação no País e fora dele, e que, há mais de dez anos, vem orgulhando a Polícia Militar Mato-grossense pela seriedade, firmeza de propósito e atuação.

Diante de todo o ocorrido, as Associações representativas de classe dos Oficiais (ASSOF), dos Subtenentes e Sargentos (ASSOADE) e dos Cabos e Soldados (ACS) da Polícia Militar de Mato Grosso, vem a público repudiar a reportagem irresponsável e descomprometida que os jornalistas da   Rede Globo de Televisão tentaram realizar na região de fronteira do Estado de Mato Grosso com a Bolívia.

Acreditamos que esse não é o papel de jornalistas responsáveis e de uma imprensa comprometida com a melhoria da Segurança Pública, e que essas práticas colocam em xeque o trabalho que a Rede Globo de Televisão, através do seu repórter de rede e também de sua afiliada, a TV Centro América, realiza no Estado de Mato Grosso, informando e dando publicidade aos fatos ocorridos em nosso cotidiano.

Ainda mais quando esta atitude que hoje nos revolta, adotada pelo jornalista Alex Barbosa e por sua equipe, confronta um dos “Princípios Editoriais do Grupo Globo”, assinado pelos seus dirigentes, os Srs. Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, e divulgado com destaque no site da emissora, nos seguintes termos:

“u) Os jornalistas do Grupo Globo agirão sempre dentro da Lei, procurando adaptar seus métodos de apuração ao arcabouço jurídico do País. Como o interesse público deve vir sempre em primeiro lugar, buscarão o auxílio de especialistas para que não sejam vítimas de interpretações superficiais da Legislação” (negritamos) in http://estatico.redeglobo.globo.com/2014/PRINCIIPIOS-EDITORIAIS-DO-GRUPO-GLOBO.pdf

A Segurança Pública não precisa de mais ingredientes que venham apimentar esse caldeirão de sensação de insegurança vivenciada pelos cidadãos, em Mato Grosso e no Brasil. Precisamos, sim, de parceiros que orientem e divulguem ações proativas e que, de fato, prestem um serviço efetivo e de utilidade pública.

Por essa razão, esperamos que a prisão do repórter Alex Barbosa e demais funcionários da Rede Globo, por agentes policiais que cumpriram fielmente com suas responsabilidades, mereça matéria de destaque, em breve, no noticiário da emissora, em caráter nacional. Não se pode admitir que o erro agora cometido vá calar a constatação da eficiência policial diante dos bandidos de fato e dos bandidos de araque que, igualmente, nos ameaçam.

Cuiabá (MT), 13 de outubro de 2015.

Tenente Coronel PM Wanderson Nunes de Siqueira

Presidente da ASSOF

Subtenente PM Luciano Esteves Correa Costa

Presidente da ASSOADE

Cabo PM Adão Martins

Presidente da ACS


Data: 13/10/2015 
Fonte: ASSOF, ASSOADE e ACSPMBM-MT