O homem só acredita no que quer
Escrito por Maria de Fátima Hiss Olivares
Cada um de nós enxerga o mundo de acordo com a sua percepção de mundo, de acordo com as suas experiências, sua personalidade e seu estado de espírito. Vamos fazer uma comparação lúdica: imagine que cada um de nós usasse um par de óculos de lentes coloridas diferentes. Um enxergaria tudo azul, o outro tudo cinza, o outro tudo cor de rosa e um outro veria tudo preto. Isso explicaria porque cada pessoa enxerga uma situação de uma maneira diferente. É como se cada um visse de acordo com a cor da sua lente. Na vida real e cotidiana esbarramos com isso diariamente. São os chamados "diferentes pontos de vista". Geralmente causam discórdias e brigas, mas é o que faz o ser humano crescer. Imagine se todos vissem tudo igual, como a nossa vida seria limitada.
Precisamos ter paciência para entender como o outro vê o mundo, ele pode estar olhando por um prisma diferente do seu e lhe abrir um maior entendimento. Você pode crescer muito se abandonar a idéia de que só o seu jeito de olhar é o certo. Podemos mostrar o nosso jeito de olhar, mas não precisamos nos desgastar com isso. Tem gente que não quer abrir os olhos, então devemos deixar assim, pois em algum momento da vida a compreensão chega. Existe uma parábola muito interessante sobre isso:
Nasrudin resolveu procurar novas técnicas de meditação. Selou seu jumento, foi à Índia, à China, à Mongólia, conversou com todos os grandes mestres, mas nada conseguiu. Escutou falar que havia um sábio no Nepal: viajou até lá, mas quando subia a montanha para encontrá-lo, seu jumento morreu de cansaço. Nasrudin enterrou-o ali mesmo, e chorou de tristeza. Alguém passou, e comentou:
- Você buscava um santo, e este deve ser seu túmulo. Na certa, está lamentando sua morte.
- Não, é o lugar onde enterrei meu jumento, que morreu de cansaço.
- Não acredito - disse o recém-chegado. - Ninguém chora por um jumento morto. Isso deve ser um lugar onde os milagres acontecem, e você quer guardá-lo só para si.
Por mais que Nasrudin argumentasse, não adiantou. O homem foi até a aldeia vizinha, espalhou a história de um grande mestre que realizava curas em seu túmulo, e logo os peregrinos começaram a chegar. Aos poucos, a notícia da descoberta do Sábio do Luto Silencioso se espalhou por todo o Nepal - e multidões acorreram ao lugar. Um homem rico foi até ali, achou que tinha sido recompensado, e mandou construir um imponente monumento onde Nasrudin enterrara "seu mestre".
Em vista disto, Nasrudin resolveu deixar as coisas como estavam. Mas aprendeu de uma vez por todas que, quando alguém quer acreditar numa mentira, ninguém o convencerá do contrário.
Psicóloga Clínica